A voz da vocalista dos Florence + The Machine magoava-me ligeiramente os tímpanos, mas acalmava o meu batimento cardíaco estupidamente acelerado - estava nervosa, muito mais nervosa do que temia.
A minha mente vagueava pelas memórias do ano anterior: não tinha sido um ano nada fácil, mas tinha conseguido ultrapassá-lo com a ajuda dos meus amigos.
E agora? Como iria sobreviver sem eles? Como?
A cada passo que dava estava mais próxima do 10º ano; a cada passo que dava tinha mais e mais vontade de voltar atrás.
Lá estava ela, com o seu ar impotente e algo assustador naquela altura - a minha escola.
Grupos enormes de alunos amontoavam-se à porta da escola e as gargalhadas, berros e afirmações excitadas enchiam o ar da manhã com a euforia habitual do primeiro dia de aulas; olhei em redor e tentei procurar alguma cara conhecida - talvez a da minha prima, que era um ano mais nova e com quem me dava lindamente -, mas em vão.
Resolvi então olhar para o meu horário - ia ter História no terceiro piso; sabendo isto, tirei o cartão da escola da minha carteira e entrei.
Olhei em volta e vi que tudo estava igual, nada tinha mudado. Ia começar a subir as escadas quando alguém me chamou
"Ana! Espera por mim!"
Olhei para trás e reparei numa rapariga, mais baixa que eu, morena e com óculos vermelhos; lembrei-me então que tinha combinado encontrar-me com ela.
O nome dela era Eloísa; tinha-a conhecido nesse Verão e tinha-me tornado sua amiga. Era muito simpática e divertida, e coincidência das coincidências: tinha sido transferida para a escola e, tchanan, para a minha turma!
"Bom dia, Eloísa!" fiz-lhe o meu melhor sorriso "Ai desculpa, esqueci-me de te dar um toque..."
"Não há problema..." ela fez uma careta "Fiz-te o desenho que me pediste"
Ela começou a vasculhar a mala e eu voltei a sorrir: tinha descoberto que a Eloísa era uma excelente desenhista; na verdade, o seu sonho era poder viver dos seus desenhos. Eu achava que ela tinha muito potencial!
"Aqui está!" ela passou-me para a mão um desenho de uma pequena boneca anime agarrada ao seu ursinho de peluche; fez-me rir
"Obrigada, Eloísa! Está muito fofo mesmo!"
"Sabes que não é preciso agradecer!" os seus olhos brilhavam com entusiasmo "Adoro fazer isto!"
"Sim, eu sei!" sorri-lhe "Vamos?"
Começámos a subir as escadas e encontrei algumas pessoas simpáticas que conhecia lá da escola - apresentei a Eloísa e estavamos em plena cavaqueira quando alguém se lembrou de mostrar o jornal da escola
"Estás tão gira aqui, Ana!"
Fiz uma careta ao ver a minha foto numa reportagem acerca do Dia Do Diploma, a cerimónia que eu tinha apresentado - não gostava nada de me ver ali!
Os meus caracóis pretos estavam domados e os meus olhos castanhos continham um brilho nervoso; os meus lábios (nem finos nem grossos) estavam pintados com um tom natural e o meu vestido azul era decente. Porém, estava completamente vermelha devido ao calor do ginásio -
"Que vergonha!" escondi a minha cara por entre as mãos "Rasga isso, rasga isso!"
O pequeno grupo à minha volta riu-se e eu segui-lhes o exemplo. Talvez... talvez tivesse tido uma visão demasiada negra da minha nova realidade. Talvez pudesse fazer novos amigos.
Sorri com esta descoberta e segui a Eloísa até à nossa sala de aula, onde uma surpresa me aguardava