segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Capítulo 1

A escola não era longe de minha casa: na verdade, dez minutos bastavam para lá chegar - e só eram necessários por ter de subir, todos os dias do meu ano escolar, duas subidas algo íngrimes e cansativas.

A voz da vocalista dos Florence + The Machine magoava-me ligeiramente os tímpanos, mas acalmava o meu batimento cardíaco estupidamente acelerado - estava nervosa, muito mais nervosa do que temia.
A minha mente vagueava pelas memórias do ano anterior: não tinha sido um ano nada fácil, mas tinha conseguido ultrapassá-lo com a ajuda dos meus amigos.

E agora? Como iria sobreviver sem eles? Como?

A cada passo que dava estava mais próxima do 10º ano; a cada passo que dava tinha mais e mais vontade de voltar atrás.

Cheguei mais depressa do que imaginava

Lá estava ela, com o seu ar impotente e algo assustador naquela altura - a minha escola.

Grupos enormes de alunos amontoavam-se à porta da escola e as gargalhadas, berros e afirmações excitadas enchiam o ar da manhã com a euforia habitual do primeiro dia de aulas; olhei em redor e tentei procurar alguma cara conhecida - talvez a da minha prima, que era um ano mais nova e com quem me dava lindamente -, mas em vão.

Resolvi então olhar para o meu horário - ia ter História no terceiro piso; sabendo isto, tirei o cartão da escola da minha carteira e entrei.

Olhei em volta e vi que tudo estava igual, nada tinha mudado. Ia começar a subir as escadas quando alguém me chamou

"Ana! Espera por mim!"

Olhei para trás e reparei numa rapariga, mais baixa que eu, morena e com óculos vermelhos; lembrei-me então que tinha combinado encontrar-me com ela.

O nome dela era Eloísa; tinha-a conhecido nesse Verão e tinha-me tornado sua amiga. Era muito simpática e divertida, e coincidência das coincidências: tinha sido transferida para a escola e, tchanan, para a minha turma!

"Bom dia, Eloísa!" fiz-lhe o meu melhor sorriso "Ai desculpa, esqueci-me de te dar um toque..."

"Não há problema..." ela fez uma careta "Fiz-te o desenho que me pediste"

Ela começou a vasculhar a mala e eu voltei a sorrir: tinha descoberto que a Eloísa era uma excelente desenhista; na verdade, o seu sonho era poder viver dos seus desenhos. Eu achava que ela tinha muito potencial!

"Aqui está!" ela passou-me para a mão um desenho de uma pequena boneca anime agarrada ao seu ursinho de peluche; fez-me rir

"Obrigada, Eloísa! Está muito fofo mesmo!"

"Sabes que não é preciso agradecer!" os seus olhos brilhavam com entusiasmo "Adoro fazer isto!"

"Sim, eu sei!" sorri-lhe "Vamos?"

Começámos a subir as escadas e encontrei algumas pessoas simpáticas que conhecia lá da escola - apresentei a Eloísa e estavamos em plena cavaqueira quando alguém se lembrou de mostrar o jornal da escola

"Estás tão gira aqui, Ana!"

Fiz uma careta ao ver a minha foto numa reportagem acerca do Dia Do Diploma, a cerimónia que eu tinha apresentado - não gostava nada de me ver ali!

Os meus caracóis pretos estavam domados e os meus olhos castanhos continham um brilho nervoso; os meus lábios (nem finos nem grossos) estavam pintados com um tom natural e o meu vestido azul era decente. Porém, estava completamente vermelha devido ao calor do ginásio - parecia um autêntico tomate.

"Que vergonha!" escondi a minha cara por entre as mãos "Rasga isso, rasga isso!"

O pequeno grupo à minha volta riu-se e eu segui-lhes o exemplo. Talvez... talvez tivesse tido uma visão demasiada negra da minha nova realidade. Talvez pudesse fazer novos amigos.

Sorri com esta descoberta e segui a Eloísa até à nossa sala de aula, onde uma surpresa me aguardava

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Prólogo

But I can't be with you like this anymore... Alejandro!

Antes da melodia se transformar num som infernal, lancei a mão ao telemóvel e desliguei o despertador: 07h20 da manhã certinhas.

Bocejei e arrastei-me (muito ao estilo "Thriler" do Michael Jackson) até à casa de banho, onde lavei a cara e tentei, quase em vão, domar o meu cabelo rebelde.
Em seguida, segui para a cozinha e preparei o meu pequeno almoço: foi durante esse processo sagrado que me apercebi, definitivamente e de uma vez por todas, de que dentro de quarenta minutos as aulas iriam recomeçar. Recomeçar mesmo.

As colheradas encharcadas de chocolate não afogavam os meus receios e dúvidas; como iria ser este novo ano? Seria o 10º ano assim tão difícil como parecia? Os professores seriam bem ou mal humorados? Será que me iria adaptar?

Relembrei vagamente a apresentação do dia anterior: não tinha conseguido tirar grandes conclusões da turma em apenas uma hora e meia. Sabia apenas que iria ficar, pelo menos mais um ano, com colegas da minha antiga turma - algo que eu não queria de todo.
Infelizmente, tinha tido o azar de "perder" todos os meus bons amigos; tinham todos mudado de escola.

Sou mesmo sortuda, não sou?

Corei ao relembrar a noite anterior: tinha-me dado um autêntico ataque de choradeira aguda ao ouvir a voz do meu melhor amigo...

Respirei fundo e tentei distrair-me: os meus amigos não deixariam de ser amigos e teria oportunidade de fazer novas amizades...
Mordi o lábio ao sentir os olhos humedecidos. Malditas hormonas...

Respirei fundo novamente, contei até dez (como diria a minha mãe) e fui-me preparar para sair de casa.
"Optimismo acima de tudo, Ana"  pensei para mim mesma "Optimismo!"
Ouvi o despertador do meu pai e soube que era hora de sair de casa. Olhei para o telemóvel e confirmei que faltavam quinze minutos para o primeiro toque da manhã.

Agarrei na minha mala nova e inspirei o cheiro a plástico ainda por estrear: apreciava-o, mas não me era nada muito reconfortante. 

Foi a ouvir os grunhidos do meu pai que saí de casa, com os auscultadores do MP3 no máximo e os livros na minha mochila a pesarem-me muito mais do que deveriam